terça-feira, 9 de setembro de 2008

Isso vai dar certo!



Texto escrito por Humberto Gessinger.


Oi. Isto é o que chamam de “release”.
Meu nome é Humberto Gessinger. Pouca Vogal é um duo que formei
com Duca Leindecker. Venho dos Engenheiros do Hawaii, banda que montei
em 1985 e com a qual, até 2008, lancei 18 discos e 5 DVDs.
Duca vem da banda Cidadão Quem, formada em 1990, com 7 discos e 1
DVD lançados. Também já lançou um disco solo, além de fazer trilhas para
cinema e teatro.
Mais detalhes sobre nossas histórias podem ser encontrados nos sites
e .
Vamos ao que interessa. Por onde começo? Não sei… Escrevendo
release sou um fracasso. Vou tentar outra forma. Que tal eu me entrevistar? Aí
vai:
HG: Como vocês se encontraram?
AgAgê: É uma história antiga, da segunda metade do século passado. Ali
por 85, eu encontrei na rua um moleque que tocava guitarra. Ele sabia que eu
tinha comprado uma Fender Telecaster. Na época, não era fácil descolar
instrumentos legais. O menino ficou de passar lá em casa pra conferir a
guitarra. Fiquei chocado quando vi ele tocar. Tirou sons da minha guitarra que
eu não imaginava que estivessem lá. Tocava demais! Técnica, estilo, emoção e o
diabo a 4. Esse garoto era o Duca Leindecker.
Aperta a tecla FastForward… Em 2004, Duca me convidou para
participar do CD/DVD Cidadão Quem No Theatro São Pedro. Tocamos Terra de
Gigantes, uma canção que eu havia escrito e gravado com os EngHaw.
FF de novo. Em 2007, Duca me pediu uma música para o novo disco da
Cidadão Quem. Havia uma da qual eu gostava muito e só não tinha gravado
ainda por achar que faltava alguma coisa. Passei para o Duca, que matou a
charada escrevendo um novo refrão. A música é A Força do Silêncio e está no
disco 7.
Agora, com a coincidência da pausa de nossas bandas, partimos para o
Pouca Vogal.
www.engenheirosdohawaii.com.br www.cidadaoquem.com.br
HG: Por que o nome Pouca Vogal?
AgAgê: É um chiste com nossos sobrenomes, Leindecker e Gessinger. Se
quisermos fazer um pouco de sociologia de boteco, podemos falar de como as
vogais vão rareando à medida em que descemos pelo mapa do Brasil. O frio vai
aumentando, a vegetação fica mais tímida, o verde vai ficando mais parecido
com o azul, as pessoas mais introspectivas. Imigrantes com suas consoantes.
Ao mesmo tempo em que exageram, algo de verdadeiro guardam essas
generalizações.
Pelo Aurélio, vogal é o fonema que se produz com o livre escapamento de
ar pela boca. Consoante é o fonema que resulta do fechamento ou
estreitamento de qualquer região acima da glote.
HG: Há outros músicos acompanhando vocês?
AgAgê: Não. Só nós 2. É um formato que sempre me fascinou. Seja um
duo de violões clássicos como os irmãos Assad, uma dupla caipira como Pena
Branca & Xavantinho, um lance pop como Simon & Garfunkel ou jazz como
Larry Coryell & Philip Catherine, há algo especial quando duas pessoas estão
tocando. Depois do solo, é o mínimo. Mas, nesse mínimo, pode rolar o máximo
diálogo musical. Duca já fez trabalhos geniais em duos com Frank Solari e com
Borghettinho.
HG: Quais instrumentos vocês usam?
AgAgê: Eu sigo nos instrumentos acústicos: violão, viola caipira, dobro,
harmônicas, piano. Além da MIDI Pedalboard, que é um teclado que a gente
toca com os pés. Duca toca guitarra, violões com afinações esquisitas e bombo
legüero, um instrumento de percussão característico do pampa.
É bem intenso. Em momentos, eu toco violão, harmônica, faço baixos
com os pés enquanto o Duca sola na guitarra e faz percussão. Tudo ao mesmo
tempo. Geralmente, quando um artista chega à quilometragem em que
chegamos, pensa em desfrutar do conforto de um repertório já conhecido e de
vários bons músicos aparando arestas. Mas nós estamos vibrando em outras
freqüências, definitivamente. Queremos sair da zona de conforto por achar
que só tensa a corda vibra legal. A vida é mesmo muito curta pra ser pequena.
HG: Qual é o repertório?
AgAgê: A partir do dia 11 de setembro, 8 músicas inéditas estarão no
site . O pessoal vai poder baixar, não vamos cobrar
nada, é free. Não estamos interessados em transformar esta atitude em um
“assunto”. Nosso interesse nos intestinos da indústria cultural é próximo de
nenhum. Nos shows, vamos tocar, além destas, algumas músicas dos
Engenheiros do Hawaii e da Cidadão Quem.
HG: Quais são e como surgiram as músicas novas?
AgAgê: TENTENTENDER: a idéia me veio num vôo enquanto eu
observava a sombra do avião rastejando lá embaixo. Mandei uma demo para o
Duca e ele reescreveu a melodia do refrão.
DEPOIS DA CURVA e BREVE: Duca me mandou as músicas e eu escrevi
as letras. A primeira fala da esperança de encontrar coisas melhores depois da
curva, depois da chuva. Talvez, o amanhã colorido. A segunda é sobre a
dificuldade e necessidade de unir firmeza e delicadeza na hora de cair fora.
Quando ser bravo é ser breve, hay que endurecer, pero sin perder la ternura.
www.poucavogal.com.br
VÔO DO BESOURO e ALÉM DA MÁSCARA: escrevi as duas sozinho, mas
já com o duo no horizonte. Dizem que o besouro tem o design menos
apropriado para voar. Esta e outras contradições sempre me interessaram.
Para além da máscara é que devemos olhar. Além do que é sentido, além do que
é sabido.
NA PAZ E NA PRESSÃO: Duca escreveu numa dessas horas em que a
gente quer gritar ou sussurrar ¡Tchau Radar!
PRA QUEM GOSTA DE NÓS: um nó nos prende ou nos leva na velocidade
de uma milha marítima por hora. Um nó amarra o laço ou o lenço. Eu já tinha
escrito há mais tempo, mas só agora cheguei ao arranjo certo. Mistura de viola
caipira e guitarra hendrixiana. Pra quem gosta do nó que nos une, Pouca
Vogal será um prato cheio.
POUCA VOGAL: escrevi um pouco para explicar o conceito, um pouco
para falar da minha ida ao Rio de Janeiro e da volta à PoA. De lambuja, cita
Piano Bar (uma canção dos EngHaw) e homenageia Kleiton & Kledir, que
melhor souberam, até hoje, misturar regionalismo gaucho e música pop.
HG: Que tipo de reação vocês esperam dos fãs das bandas
Engenheiros do Hawaii e Cidadão Quem?
AgAgê: Acho que o maior sinal de respeito de um artista em relação ao
seu público é não pensar nele na hora em que cria. Eu não quero que os
artistas dos quais eu gosto pensem em mim quando criam. Não quero que os
políticos nos quais eu voto façam pesquisas pra saber como quero que eles
falem e atuem. Fica parecendo um cão perseguindo o próprio rabo. Quero que
eles tenham A Visão e corram o risco de encontrar ou não quem se interesse
por ela.
Resumir todas as pessoas que gostam do teu trabalho num estereótipo
de “fã” também me parece grosseiro. Cada fã é fã da sua forma, com suas
particularidades. Cada um tem seu caminho, sua maneira de passear pela
obra. Não gosto que me vejam como produto, por isso não penso neles como
consumidores. Obviamente será maravilhoso se todos gostarem de tudo. Se os
teatros estiverem todos lotados e as bocas todas sorrindo e pedindo bis. Caso
esse mundo ideal não se concretize, estaremos tranqüilos por estar seguindo
noss'A Visão.
HG: A banda Engenheiros do Hawaii acabou?
AgAgê: Não. Pretendo voltar quando o Duca encher o saco de mim.
HG: Cidadão Quem acabou?
AgAgê: Que eu saiba, não.
HG: Gostaria de dizer algo mais?
AgAgê: Não sei por que, gostaria de dar nossas datas e locais de
nascimento.
Humberto Gessinger: Porto Alegre, 18:30h do dia 24 de dezembro de 1963.
Duca Leindecker: Porto Alegre, 10:30h do dia 5 de abril de 1970.


(Escrito por Humberto Gessinger)

Nenhum comentário:

Pesquisar no Blog